2010 FIFA World Cup South Africa - Análise

2010 FIFA World Cup South Africa - Análise




Por: Leonardo Teixeira

A série FIFA ganhou largo prestígio de parte dos gamers fãs do esporte, e não é por uma razão qualquer. Com a versão 2010, a EA Sports deu aos jogadores um game sólido, diversificado, customizável e com foco num multiplayer muito inteligente. Mas mais importante: mostrou um senso de si própria como poucas outras séries esportivas puderam alcançar (estamos olhando para você, PES 2010!). A sensação era a de se estar jogando bola, e ainda assim, com modos como o Be a Pro, que permite a construção e evolução de um craque próprio, mostrou que no fim das contas FIFA 2010 era um jogo de videogame, atrelado a mecânicas típicas de RPGs ou jogos de luta. O sistema de passe em 360°, por exemplo, inseriu uma nuança similar ao de uma partida de Street Fighter, onde o menor posicionamento da alavanca fazia toda a diferença. É com esse auto-conhecimento que a EA lança mais um game Copa do Mundo, e ao invés de trazer apenas um FIFA 10 com um ou dois modos a mais, nos deu a chance de experimentar algo novo - mesmo que não fundamentalmente. Em 2010 FIFA World Cup South Africa, o time atrelou ao próprio código do jogo algo que nem sabíamos, mas que fazia tremenda falta: o drama.

Vamos às novidades do game. A menos notável de todas são as pequenas reformulações feitas na jogabilidade em campo. Primeiro, a AI dos goleiros parece ter sofrido uma boa mudança: nada de estratégias suicidas de tentar pegar a bola na linha de área nem nada do gênero. Agora eles agem sempre bem mais próximos do gol, evitando frustrações desnecessárias e dando mais espaço de respiro para um jogo que está um pouco mais acelerado do que o anterior. Passes longos e principalmente aéreos parecem mais fáceis de serem realizados, e mais confiáveis. Passes á curta distância, entretanto, se mantêm na mesma, e algumas táticas baratas continuam tão úteis como sempre (como chutar uma bola à gol perto de uma das traves). O jogo flui melhor com árbitros um pouco mais cuidadosos em avaliar faltas e aplicar cartões - uma grata mudança dos juízes sedentos por poder do FIFA 10 que acabavam com um time em poucos minutos. Os jogadores tem novas rotinas de animação e o movimento da bola foi revisado para criar uma jogabilidade um pouco mais sólida que a do jogo original. O sistema de 360° ainda é um pouco difícil de dominar para marujos de primeira viagem, e pode resultar em uma ou outra frustração, mas é um jeito bem orgânico de representar a ação em campo. Para os mais novato - e o público que só vai comprar o jogo por causa da Copa - o jogo até inclui um sistema de controle super simplificado, que exige apenas o uso de dois botões. O gamer fica no controle apenas dos passes, chutes e movimentação básica, sem se preocupar com a precisão ou com muita estratégia: a defesa faz um ótimo trabalho por si só. Embora seja impossível executar chapéus, chutes de trivela e outros movimentos avançados, acaba sendo uma boa saída para colocar jogadores menos experientes contra a AI agressiva do game ou mesmo contra outros jogadores mais calejados. As novidades no sistema geral de jogo resultam em uma experiência mais ágil e onde cada jogada ganha um pouco mais de gás, sem assim desprender a atenção dos consumidores casuais com a imposição de regras ou mecânicas labirínticas.




Via múltipla

O modo que serve como foco do game é o World Cup. E aqui o jogo encontra um problema grande. Todo o bom fã de futebol sabe que a Copa do Mundo não é apenas algo que ocorre de quatro em quatro anos. A Copa é um fenômeno que exige um preparo titânico: um time tem que provar seu valor em uma infinidade de campeonatos e eliminatórias. Algo que o sistema de calendário virtual de 2010 FIFA World Cup não consegue comunicar muito bem. O jogador terá que vencer uma diversidade de partidas antes de ter a chance de competir com as maiores seleções do mundo. Mas não há nenhuma maneira de agendar a participação em grandes torneios, como a Liga das Confederações, e participar destes eventos laterais. A impressão que passa é que chegar á Copa aqui é simples questão de vencer um certo número de jogos. Claro que para conquistar essas vitórias é necessário um baita trabalho para montar um time campeão. Ainda é possível bancar passes, negociar talentos e gerenciar aqueles que você já tem. Aqui também, a sensação é que falta a profundidade de um evento como a Copa: seria legal poder pegar jogadores de times regionais e ter que decidir em mantê-los no time ou retirá-los de jogo para apoiarem suas equipes de origem em um momento difícil. Esse tipo de situação que um técnico de uma representação nacional de verdade tem que arcar sem dúvida adicionariam bastante ao game. Essas são na verdade pequenas reclamações, advindas de um pacote que chega tão perto de dar a experiência real de se estar à caminho da Copa que fica difícil não desejar um pouco mais. O sistema, do jeito que está, é muito divertido e cheio de pequenas nuanças que certamente agradarão aos fãs. Some a isso o fato de que é possível reviver momentos chaves de outras Copas, e até mesmo a reconstituição de embates da Copa 2010 de verdade. A EA Sports supostamente criou um sistema simples para lançar esses conteúdos online para os jogadores, então espere muitas novidades para depois do lançamento. Falando em online, o modo World Cup possibilita que um grupo de jogadores se reúna para completar todos os jogos da Copa. Mas a modalidade mais interessante é o Battle of the Nations. Nele cada jogador escolhe um país de sua preferência e vai ganhando e perdendo pontos conforme joga com outros times de outras nacionalidades. A sacada é que os pontos de todos os jogadores reunidos sob uma mesma bandeira são somados para a pontuação geral de um dado país. É possível acompanhar esses números e saber qual nacionalidade está sendo melhor representada, o que ajuda a criar um ambiente competitivo e cooperativo bem natural e dinâmico.

Todos ao timão!

Além destes modos online, é possível se reunir com outros três jogadores no chamado Captain your Country, e tomar o papel de quatro atletas, competindo em jogos diversos e esperando realizar uma performance em campo boa o suficiente pra te elevar a capitão de seu próprio time. O legal desse modo é que o jogador promovido passa a ter que realizar decisões estratégicas na partida. A mudança na jogabilidade não é a única motivação para perseguir o cargo de capitão: é possível ver um jogador criado e treinado por você no modo Be a Pro, e vê-lo levantando a taça da Copa do Mundo como o capitão de um grande time nacional. Com um jogo mais rápido em campo e um maior senso de progressão e vitória, há um último elemento importante da jogabilidade que confere um drama a mais no game. A EA Sports deu um foco especial às cobranças de pênalti. Agora é necessário um bom domínio de timing e da dosagem certa do chute: os goleiros estão bem mais espertos, e com cada embate mais perto da Taça, os pênaltis vão ficando mais e mais difíceis. Isso se dá graças à uma terceira barra que leva em conta fatores como importância do jogo, qual a situação da partida e quem está cobrando.

No setor audiovisual do jogo, a EA apostou no que ela chama de "Carnaval da Copa". Cada estádio do jogo - alguns são previsões do que serão as instalações finais - são de um colorido vivo, e a cada partida a câmera dança pelo campo, captando imagens dos fãs dançando e curtino todo o festival do futebol. De igual maneira, os técnicos de cada um dos países aparecem em rápidos takes depois de algumas cobranças de falta ou no fim de jogo, auxiliando o clima de festa com algumas comemorações mais reservadas. Não há muita novidade nos gráficos do que já era apresentado em FIFA 2010, mas as cores são mais variadas e as animações um pouco mais naturais que as do game original. A sensação ainda sendo um pouco robótica - a dança da vitória do atacante irlândes Robbie Keane parece até uma piada de mau gosto. Pequenos problemas com texturas sendo carregadas ou Screen-tearing acontecem de vez em nunca, e no geral , o jogo é visualmente competente. Os modelos tridimensonais dos técnicos são um ponto de elogio: o Dunga, por exemplo, tá com aquela velha cara dura de sempre. Os estádios não são apenas colírio: cada um tem sua nuança, com localidades como a Argentina e a maior altitude de La Paz exigindo que jogadores conservem seu fôlego devido ao ar rarefeito. O som é um ponto essencila de um jogo de futebol, e a EA soube bem como criar o clima: música, gritos e batidas das torcidas acompanham o confete multicolor sendo lançado das arquibancadas, e se tornam um estampido considerável quando se realiza um gol. É tudo muito alegre e energético. O problema é que existem momentos de tensão no futebol que simplesmente não aparecem aqui: quando o time da casa está tomando uma lavada e tem a chance de virar em uma cobrança, o estádio tinha que ser tomado por um silêncio avassalador ou ao menos uma pausa que seja. É estranho ver torcedores levantando bandeiras e cantando no topo de suas vozes depois de 20 minutos de humilhação em um jogo perdido. Embora não seja mais estranho do que ouvir os torcedores da seleção da Coréia do Sul entoando um "olê,olê,olê" na arquibancada, mas vá lá. A dupla de comentaristas - os ingleses Clive Tyldesley e Andy Townsend - fazem um trabalho muito bom de narração das partidas, embora o ritmo falhe aqui e ali, e introduzem cada um dos embates com a entonação adquada.




Por melhor que FIFA 10 tenha sido, é fato que muito de seu "appeal" estava destinado aos fãs ardorosos do esporte: havia um sem número de times europeus obscuros do qual a maior parte dos jogadores não faria ideia de quem eram. Para muitos, a verdadeira porta de entrada para o futebol é mesmo a Copa do Mundo, com seus grandes eventos, nome e seleções. É de fato um grande espetáculo destinado a todo mundo, de torcedores a donas de casa. A EA Games soube aproveitar o apelo geral do evento, levando ao mercado um jogo muito completo, cheio de pequenas intrincâncias e modos de jogo que de uma maneria ou de outra vão agradar todo mundo. Casuais poderão aproveitar o sistema de dois botões, mas será difícil sair dele. 2010 FIFA World Cup poderia contar com uma curva de aprendizado mais ampla, encaminhando o jogador através de modos de controle cada vez mais complexos até que o gamer estivesse completamente imerso nas regras do jogo. Esse é o maior dos problemas em um game tão próximo de representar a coisa real que até o menor desvio vai acabar de fazendo falta. Mas nada a temer! Tudo está mais dramático e festivo: esta não é apenas uma adaptação fria. E no fim das contas, é superior ao seu antecessor em quase tudo. Existe mais um porém: com FIFA 2011 tomando emprestado todas essas melhorias e certamente sendo lançado dentro de 5 ou 6 meses, a questão de se vale mesmo a pena ou não comprar este game se torna um pouco difícil. Nós acabamos indicando este game pelo simples fato de ser melhor do que o que a concorrência pode oferecer, mas não espere ter o "game definitivo de futebol" por muito tempo em mãos.


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